Ronda PFW (parte II): sustentabilidade, tributos à Paris e mais nos últimos dias de desfile da temporada

by - outubro 02, 2019

Depois de um mês de desfiles, oficialmente o fashion month terminou. Assim, confira os destaques dos últimos dias de Paris Fashion Week.

ELIE SAAB
Em meio à relevante discussão sobre apropriação cultural, hoje em dia tão em voga na moda, o desfile desta temporada de Elie Saab pode soar um pouco estranho dependendo da perspectiva tomada. A inspiração por trás da coleção eram as savanas africanas, logo, a controvérsia volta-se, principalmente, ao uso de acessórios próprios da cultura deste continente, como colares de miçangas africanas e braceletes, ou então do acessório de cabeça similar ao de Nefertiti, a  rainha egípcia negra, cuja representação na cultura ocidental sofreu embranquecimento.

Não que as demais marcas não utilizem outras culturas como influência para suas criações, porém é imprescindível um cuidado e responsabilidade no modo de fazê-lo. A Dior, como um exemplo bem sucedido recente, teve a África como referência em seu Resort 2020, por esse motivo convidou artistas locais para a criação das estampas em cera, grande destaque daquele show.

No entanto, deixando a discussão de lado, algo que é inegável é a capacidade de Elie Saab em fazer vestidos de festas deslumbrantes, que não à toa estão sempre em algum tapete vermelho por aí.
Fotos: Filippo Fior.  (Reprodução/Vogue Runaway)
HERMÈS
O minimalismo à lá anos 90 deu o tom do desfile da Hermès para a próxima temporada. Como não poderia ser diferente, em razão da relação histórica entre a marca e o material, o couro teve seu lugar de destaque no show. Na passarela, looks utilitários dividiram as atenções com alguns em alfaiataria.
Fotos: Filippo Fior. (Reprodução/Vogue Runaway)
BALENCIAGA
Em um mundo de redes sociais, onde a padronização parece cada vez mais iminente, a Balenciaga sempre funcionou como uma luz no fim do túnel, quebrando e desmistificando alguns padrões da moda, principalmente no que diz respeito às proporções de suas criações.

A premissa de Demna Gvasalia para essa temporada era vestir-se poderosamente, não importando qual o seu trabalho, criar um uniforme fashion. Para tanto, silhuetas oversized e ombros proeminentes foram as escolhas, com alguns looks sem gênero.

Outro ponto que chamava a atenção eram modelos ostentando lábios enormes e os ossos do rosto proeminentes, resultado alcançado pelo uso de próteses. Seriam críticas aos tempos em que vivemos, onde tratamentos estéticos estão cada vez mais comuns, ou uma tentativa de representar poder - vibes Malévola? Bom, certo é que Gvasalia sempre assumiu uma postura provocativa com relação à moda e a sociedade que nos cerca, o que faz dele um dos grandes nomes da atualidade.
Fotos: Filippo Fior. (Reprodução/Vogue Runaway)
VALENTINO
A escolha de Pierpaolo Piccioli - um dos meus designer favoritos dos últimos tempos -, para a temporada, foi levar à passarela o contraste do branco com cores vibrantes de maneira audaciosa e maravilhosa de se ver.

A primeira parte do desfile era dedicada ao branco, num total de 19 looks nessa proposta, na qual, segundo o designer, trabalhou a ideia da universalidade de uma camisa branca, reconstruída em diversas formas e volumes. De outro lado, as cores fluorescentes foram exploradas em peças fluidas e acessórios, deixando tudo mais alegre.

As estampas da coleção eram inspiradas em pinturas fauvistas, estilo artístico originário da França, no início do século XX, cuja principal característica eram o uso de cores fortes, por meio das quais criava-se as noções de volume e perspectiva.
Fotos: Filippo Fior. (Reprodução/Vogue Runaway)
GIVENCHY
Para o verão de 2020, Clare Waight Keller voltou aos anos 90, precisamente em 1993, época em que foi morar em Nova York, usando isso como forma de criar uma conversa entre o minimalismo, visto e vivido por ela lá, e a exuberância de Paris na mesma época.

A premissa do show foi traduzida em looks monocromáticos, couro, silhuetas retas, muito jeans, que, pelas informações do desfile, seriam tecidos reutilizados dos anos 90. Os blazers eram usados ora com shorts jeans, ora com bermudas de alfaiataria, dando um toque masculino à roupa.
Fotos: Alessandro Lucioni. (Reprodução/Vogue Runaway)
STELLA MCCARTNEY
Stella McCartney foi mais uma marca, nesta temporada, a endossar a conversa sobre sustentabilidade na moda, o que foi tema de uma mesa redonda promovida pela designer, um dia antes de seu show.

Esta é a coleção mais sustentável já feita por Stella, segundo a própria, com mais de 75% de materiais ecológicos usados. A marca agora faz parte da gigante companhia fashion LVMH, igualmente detentora da Louis Vuitton, Dior, Fendi, dentro outras, e a estilista foi nomeada consultora do presidente e executivo-chefe da companhia, Bernard Arnault, envolvido em polêmica, na semana passada, ao dizer que a ativista Greta Thunberg está rendida ao catastrofismo.

Na passarela, as peças apresentadas eram femininas e elegantes. Os vestidos tinham uma silhueta fluida e descontraída, perfeitos para o verão.
Fotos: Filippo Fior. (Reprodução/Vogue Runaway
CHANEL
Um dos mais aguardados do fashion month, o desfile da Chanel não poderia ter sido menos emocionante, com direito à reconstrução dos telhados de zinco parienses, no Grand-Palais, e comediante intrusa na passarela, escoltada para fora por Gigi Hadid.

A primeira coleção de ready-to-wear apresentada por Virginie Viard, após o falecimento de Karl Lagerfeld em feveiro deste ano, foi um tributo à Paris, com toda a juventude e o jeito de ser da cool french girl, algo que habita o imaginário comum.

A inspiração do desfile veio da atmosfera da 'Nouvelle Vague', movimento cinematográfico francês, com ápice na década de 60, cuja proposta era a de retratar a vida real, questões psicológicas e cotidianas dos personagens.

Por motivos óbvios, o clássico tweed não poderia faltar, que aparecia em jaquetas, usadas com shorts de paetês ou saias sino, e vestidos de comprimento mini.
Fotos: Alessandro Lucioni. (Reprodução/Vogue Runaway)
MIU MIU
A Miu Miu é, sem dúvidas, a 'menina dos olhos' de Miuccia Prada, não que ela não se importe com a direção da marca legado de sua família, a Prada, mas é aqui onde ela aflora sua liberdade criativa, e é justamente sobre isso que versava o desfile.

Em termos gerais, a coleção apresentada era linda e feminina, com ares das décadas de 40 e 50, estética diretamente aplicada aos acessórios e à beleza das modelos. Porém, são os detalhes e o objetivo por trás deles que fazem tudo ainda mais interessante.

A intenção estava em transmitir uma dualidade. Primeiro, havia a sensação de autonomia existente ao se modificar uma roupa, toda a simplicidade e improvisação, como pintar o próprio floral de um casaco, pregar botões descombinados em um blazer, transformar um vestido simples em algo a mais adicionando outro tecido sobre ele, quase como um artista encarando a tela. Contrapondo-se à essa ideia, a peças eram marcadas por uma estrutura sofisticada e forte, como, por exemplo, a alfaiataria.
Fotos: Filippo Fior. (Reprodução/Runaway)
LOUIS VUITTON
Para sua primavera, Louis Vuitton mirou na nostalgia, na relevância que o passado tem em nosso presente.

Tirando a semelhança com a silhueta em algumas peças, não eram os anos 70 que estavam sendo evocados na passarela. Na verdade, é preciso voltar um pouco mais no tempo para compreender os ideais de Nicolas Ghesquière, precisamente à Belle Époque francesa, período de efervescência cultural e artística, compreendido entre 1871 e 1914.

As referências à essa época estavam expressas, principalmente, em mangas bufante - também chamadas de bishop - e nas estampas, algumas de flores, remetendo à Art Nouveau, movimento artístico que ascendeu por volta de 1900, que tinha como característica, dentre outras, retratar elementos da natureza.

Agora, desafiar o tempo foi que Ghesquière adorou fazer nessa temporada, já que, mesmo com o mood do século IX nas roupas, as bolsas da coleção tinham o formato de fitas VHS.
Fotos: Alessandro Lucioni. (Reprodução/Vogue Runaway)

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